terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada,
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
  
MORAES, Vinícius de. ANTOLOGIA POÉTICA.
 
Flahback:
 
A primeira vez que li este poema foi durante o processo de montagem do espetáculo "Pétalas de Chumbo", escrito e dirigido por Luiz de Lima Navarro, em 2008. A esquete fora apresentada na 13ª MOCASPE (Mostra Cabense de Esquetes e Poesias Encenadas). O texto acima fora inserido na fala do personagem Camilo, que eu interpretava. Na época eu pensava que ele havia sido composto pelo próprio Luiz Navarro, que engraçado.... Por ironia, ao pesquisar alguns poemas para deleito pessoal, encontro esta jóia rara que me fez viajar no tempo.
Abaixo temos a única imagem que consegui nos arquivos do site da Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho, desta esquete que retratava um conflito de um amor impossível, tragicamente impossibilitado pela incapacidade do aceite do personagem "Camilo" de amar outro homem.
 
 Lembro-me que foi um dos trabalhos mais complexos que já participei, haja vista a carga emotiva e a exigência da refinada direção eram extremamente altas. Além do mais, eu dividia o palco com o grande ator e circense Neto Portela, que vive atualmente em Portugal.
 
Aproveito para agradecer aos amigos Luiz de Lima Navarro e Neto Portela, pela competência, humildade e dedicação neste trabalho.
 
Bom, é isso aí! Sempre que possível "VÁ AO TEATRO!"
 
Forte abraço!

Nenhum comentário:

Postar um comentário