sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Relato matinal

Vejo raiar mais um sol, digo, de novo raia o mesmo sol.
A manhã é que já é outra, pois a anterior ficou no ontem, e hoje... 
Ah, hoje é o inferno!
Vago lentamente pela casa. 
A cozinha branca e cheia de coisas está vazia, apenas eu a habito.
Tomo apenas um café pequeno, pois fome de verdade já não mais tenho.

Caminho em direação à sala. Subo as escadas agarrada no corrimão! 
Como doem as pernas, meu Deus! Como dói o coração...
Do meio para frente já fico ofegante, e suo como uma porca velha. 
Não apenas pelo cansaço, mas por me aproximar daquele bem-dito quarto.

Abro lentamente a porta. 
Na verdade não a abro já de início! 
Agarro a maçaneta e sussurro algo pra Deus...
Giro com a mão direita, e ao ritmo do giro da maçaneta gira minha cabeça.
E lá estão tuas coisas, meu amor. Todas, desafortunamente, no mesmo lugar! 
Como me arrependo de um dia ter desejado as coisas em ordem. 
Queria mesmo é vê-las de "pernas pro ar", mas o único ar no recito é o de silêncio.

Tiro a poeira de alguns livros.
Em alguns deles ainda sinto teu cheiro e vejo teus rabiscos inocentes.
Oh, meu Pai, de veras eu sinto algo indescritível. Tenho ganas de atirar-me janela abaixo! 
Mas por que puseste teu retrato bem na cômoda que antecede a persiana?
Sinto como como se me olhastes... Sinto-me embaraçada mais uma vez.

Finda minha romaria. 
Despeço-me em mil pedaços e volto para a cadeira de balanço do terraço.

Vigio novamente o portão da casa. 
Mas ele não se abre, tu não voltas e essa guerra que não acaba!

Gleydson Góes

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