quarta-feira, 24 de abril de 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Os Subalternos


Os subalternos olham para os Céus e imploram perdão por existirem; simplesmente existirem.
Os subalternos olham pra seus semelhantes e pedem perdão por serem inferiores, menos abastados ou mais ignorantes, e imploram perdão por existirem.
Os subalternos ficam sempre à espera: esperam que Deus faça algum milagre, que o governo faça algum milagre, que a família seja caridosa e que seus semelhantes sejam bonzinhos, ou que pelo menos desenrolem um troco.
Os subalternos não são nem quentes, nem frios: são mornos!
Eles causam ânsias de vômitos em Deus, no diabo e em qualquer coisa que respire ou seja fruto do imaginário humano.
Eles não conseguem definir um norte. 
Eles correm como baratas tontas e buscam a escuridão, a incomunicabilidade, o desespero interno que alude a um suicídio que mais parece uma masturbação que nunca atinge ejaculação alguma, nem mental.
Os subalternos são o que Cazuza chama de "pessoas que tão no mundo e perderam a viagem".
Não sabem que caminho traçar. Não se preocupam com a evolução da cabeça e do espírito, que é uma consequência da evolução da cabeça, e vice versa.
Os subalternos me causam dó, pois estão em um poço de lodo verde desgraçado, muito perto de se afogarem, e nem ao menos tentam se levantar para perceberem que o famigerado lodo - de que tanto reclamam - está ao nível dos seus joelhos, apenas!
Meu sonho é que em todo e qualquer subalterno nasça um guerreiro de luz cheio de coragem pra viver ou para morrer, pois vegetar é o pior status imaginável para um ser humano.

                                                                                                                                 Kurt Spörk

domingo, 14 de abril de 2013

E assim segue a vida...


O microondas bipa avisando que o café já está pronto.

O vento é soprado pelos próprios ventos janelas a dentro, deixando o quarto mais fresco.


Cachorros latem ao longe.


Há pontos de luz na escuridão da cidade, notórios à olho nu.

O microondas insiste...
E assim segue a vida: uma eterna repetição de tudo.

                                                                                                                               
                                                                                                              Kurt Spörk

Multiculturalidade (Entre amigos)


Tenho amigos crentes e amigos ateus. Dentre os crentes alguns são: católicos,
evangélicos, testemunha de Jeová, Mórmons, umbandistas, espíritas, e por aí segue.
Todos me falam suas belas verdades. Eu as ouço e pondero. Pra falar a verdade eu acho que todos estão CERTOS!
Tenho amigos de direita, de esquerda, apolíticos...
Tenho amigos pretos, amarelos, brancos, morenos e incolores.
Tenho amigos héteros, gays e em cima do muro. E o interessante é que todos eles são de carne, osso, sangue, pele, 70 a 75% de água...
Todos eles choram, sorriem, contam piadas sem a menor graça (com raras exceções).
Tenho amigos do curtem rock, reggae, samba, lambada, arrocha, brega, MPB, forró, mangue beat, funk e música clássica. 
O interessante é que eu entro no jogo e acabo tudo isso curtindo, dependendo da ocasião.
Alguns amigos meus são matemáticos, metódicos, sistemáticos. Já outros são viajados, criativos e apoiam o "legalize".
Uns tomam birita, outros dão uns tapinhas, outros fazem meditação, pois apenas meditação basta!
E por esse motivo eu acho que sou um cara de sorte, a pesar de não entender bem o que "sorte" significa.
Com eles eu cresço e evoluo, pois me ensinam a respeitar de maneira natural essas diferenças. E a rede é infinita, pois até os amigos dos meus amigos deixam alguma coisa interessante no ar para se pensar.

Queridos amigos,

Obrigado por estarem aqui. Por fazerem acontecer! 
Vocês são... Bem... Vocês são o que são!

segunda-feira, 1 de abril de 2013

O sol é um só, mas quem sabe são duas manhãs

Pela manhã ambos escovamos os dentes: eu usei close up, ele sorriso.
Ambos tomamos café, mas antes do café eu tomei um banho; já ele... eu não garanto,
pois parece-me que estava com a mesma camisa da Cyclone de ontem.
Igor me deu um bom dia formidável, como de costume: "E aê, zé buceta! Tás bem?", e 
logo em seguida me deu um abraço adiantando que hoje ia ter prova, mas que depois
ele achava que iria ter futebol.

Sobre o futebol eu estava por fora, mas para a prova eu estava afiado: dessa vez minha
nota certamente seria maior do que a de Rodrigo, pensei.
Eu lamentava o fato de Igor não poder ir lá em casa jogar Play 2. Meus pais não gostavam.
Minha mãe sempre dizia que ele não era boa influência, e depois que achou uma Pure Hemp assinada por ele, que dizia: "aproveita, Zé", foi que passou a crer que era o demônio encarnado...

Igor era mesmo meio complicado: o pai vivia numa cachaça da desgraça, e a mãe, coitada, fazia arrumações mundo a fora pra sustentar eles e mais uma guria de 7 anos.
Igor adotou o nome de Mac e passou a levar umas paradas meio sinistras pra o futebol, e a galera logo passou a curtir de montão.
Eu tinha medo de andar com ele quando ele tava carregado. Mas fazer o quê?
Nunca tive um amigo como Igor, o Mac Ligeirinho da Zona Norte, como passou a ser conhecido.

Os anos se passaram e nós tivemos de nos mudar em virtude do mestrado de papai, e do meu curso de inglês.
Na festa de despedida Mac apareceu de surpresa no outro lado do nosso muro e me deu um toque:
"-Ooooi, Mac!"
"-Chega, aê, Zé Bê... Pelo menos um tchau, né vei?"

Dei um jeito e escapei, e lá estava ele, com cara de choro e um cheiro muito forte de álcool.
"-Toma. Leva essa pra dar sorte, e vê se não vacila desse vez!"
"-Aff, Igor. Deixa de viage. E teu curso de informática que tu ia fazer? Vamos diminuir essa birita, né meu chapa? Vai ficar de vacilação pra vida é?"
"-Tô juntando uma grana, meu vei... Vou estudar tanto que vou virar um hacker, você vai ver um dia, hahahaha. E que conversa de vacilação é essa? Eu sou esperto, meu cumpade. Você sabe disso. Eu nunca perdi o controle, como disse Mr. Kurt."

Depois de um abraço meu amigo sumiu tão "ligeiro" quanto seu pseudônimo...

Hoje, de férias e de volta ao lugar onde vivi tantos riscos com meu amigo maluco, fui à casa da avó e em seguida subi a ladeira da casa dele pra matar a saudade que já fazia 2 anos. Estava escuro como sempre, mas a galera já me conhecia. Ao chegar lá encontrei um barraco de portas caídas, com um ar de abandono.
Dona Argelina, vizinha de Mac, me disse que depois da tragédia a mãe dele e a irmã haviam ido pro Rio, provavelmente para casa de familiares.

Mac, meu amigo, foi "apagado" antes de terminar de juntar a grana para o curso de Hacker que ia fazer no Centro da Cidade.
Eu preferia nunca ter voltado pra esse lugar. Na verdade, eu nunca deveria ter vindo.